Os voos do Suruí-Paiter manhã

Para bem criar passarinho é obrigatório cultivar jardins, canteiros, flores e folhagens, para deixá-los por terra, soltos, aos bandos, ciscando apressados, perseguindo pequenos insetos e suspeitas raízes dormindo misteriosamente entre cigarras ainda por cantar.
(Bartolomeu Campos de Queirós)

Após um bom período no ninho da família, o grupo Suruí-Paiter Manhã alçou voo de suas casas para o chão da escola. Cada criança no seu tempo foi se achegando nesse novo ninho tão esperado por todos nós. Uma marca desta chegada foi o olhar cuidadoso ao tempo e às singularidades de cada criança e suas famílias. Elas precisam de muito cuidado para se sentirem seguras e acolhidas neste novo espaço e fincarem suas raízes. O processo de acolhimento é também um tempo de construir o sentimento de fazer parte.

Ficamos atentas e respeitamos o movimento e o desejo das pequenas e dos pequenos de ir e vir do colo para o chão, do chão para o colo, da sala para o quintal, do quintal para o seio familiar… 

Um voo importante foi do ninho/sala para o nosso ninho/quintal. O interesse por observar os pássaros brotou numa manhã quando uma rolinha procurava fragmentos no chão para se alimentar. Duas crianças do grupo se mostraram espantadas e encantadas com o pouso. Daí em diante, o canto dos passarinhos, os pousos e os voos passaram a fazer parte da nossa rotina. As crianças, sedentas por novas descobertas, todas as manhãs faziam suas explorações com o olhar e com o ouvido atentos. Sempre encontravam algo novo, algo que as surpreendia.

O espaço do nosso quintal provoca a curiosidade e aguça a pesquisa imaginativa das miudezas encontradas. Atentas às diversas formas de vida e às manifestações da natureza, as crianças ampliam o olhar e os sentidos. Reparam nos passarinhos que chegam às árvores, ao vento que derruba as folhas secas, às borboletas que voam entre as plantas, às penas caídas dos passarinhos, às pedrinhas do chão que aos poucos viram coleção, às formigas que caminham pelos canteiros… Elas também se transformam em pássaros e voam livres, leves e soltas! Neste processo de se perceber e se experimentar parte da natureza, tateando o que interessa, as descobertas acontecem espontaneamente e as crianças aprendem de corpo inteiro!

Com uma educação desemparedada, próxima à natureza, podemos ver crescer sujeitos abertos ao mundo, sensíveis e cheios de iniciativa. Seres seguros de si, solidários e autônomos. Em uma relação de respeito e confiança a criança constrói seus desejos e se encoraja para viver o inédito de cada dia. Aprender é muito mais prazeroso diante do encantamento, do que emociona, daquilo que cutuca a nossa curiosidade.

Os passarinhos do Suruí-Paiter sabem que têm um ninho de afeto garantido, e que podem contar conosco. Estamos atentas ao que elas dizem.  Escutar as crianças desde a mais tenra idade é estar disponível para escutar o não dito. É perceber seu olhar, suas expressões, seus movimentos, seus desejos e dialogar com elas. Esse encontro potencializa e dá o suporte para que nossas pequenas e nossos pequenos alcem seus voos cada vez com mais segurança e alegria.

Apreciem sem moderação as imagens e vídeos que revelam um tanto desses voos!

Educação Infantil
Turma Suruí-Paiter Manhã (2 a 3 anos)
Professora: Ana Lúcia Silva
Parcerias: Ana Ribeiro, Carol Oliveira, Renata Costa, Tatiana Rodrigues e Valéria Barros