Referências - Paulo Freire

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Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco. A escola em que se pensa, em que se cria, em que se fala, em que se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim a vida.

Paulo Freire nasceu em 1921, no Recife. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Suas ideias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos - em particular o uso da linguagem - e do papel elitista da escola. Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.

 

IDEIAS:

LIÇÕES DE FREIRE / Moacir Gadotti

 

“.... Qual é o legado que Paulo Freire nos está deixando? .... Além do testemunho de uma vida de compromisso com a causa dos oprimidos, ele nos deixou uma imensa obra, estampada em muitas edições de seus livros, em artigos e vídeos espalhados pelo mundo. Nela se encontra uma pedagogia revolucionária. A pedagogia conservadora humilha o aluno. A pedagogia freireana, a "pedagogia do diálogo", deu dignidade a ele, respeitando o educando e colocando o professor ao lado dele - com a tarefa de orientar e dirigir o processo educativo - como um ser que também busca. Como o aluno, o professor é também um aprendiz... Esse é o legado de Freire. No desenvolvimento da sua teoria da educação, Paulo Freire conseguiu, de um lado, desmistificar os sonhos do pedagogismo dos anos 60, que, pelo menos na América Latina, sustentava a tese de que a escola tudo podia, e, de outro lado, conseguiu superar o pessimismo dos anos 70, para o qual a escola era meramente reprodutora do status quo. Fazendo isso - superando o pedagogismo ingênuo e o pessimismo negativista - conseguiu manter-se fiel à utopia, sonhando sonhos possíveis. Fazer hoje o possível de hoje para amanhã fazer o impossível de hoje.

Em março de 1997, um grupo de jovens de Brasília ateou fogo e matou um índio pataxó. Paulo Freire ficou muito impressionado com este horror. E se perguntava por que chegamos a tamanha barbárie.... Diante da injustiça, da impunidade e da barbárie, precisamos de uma pedagogia da indignação. Dizer "não" provoca conhecimento. O "não" desacomoda, incomoda, desinstala. Obriga-nos a pesquisar. Dizer "não" é afirmar-se como "eu". É buscar a ética, é valor, é postura. Paulo Freire nos falava com freqüência de uma pedagogia da rebeldia.

Um tema que Paulo Freire estava desenvolvendo nos últimos tempos era o que chamamos no Instituto de Ecopedagogia. Paulo Freire dizia que precisávamos reler Ivan Illich e Herbert McLuhan com a compreensão que temos hoje da tecnologia, mas também com uma nova ética.... Paulo Freire nos falava da necessidade de criar vínculos, da amizade, das relações sociais e humanas e na sua última entrevista (16 de abril) afirmava que "gostaria de ser lembrado como aquele que amou as plantas, os animais, os homens e mulheres, a terra..." Em seu livro À sombra desta mangueira ele valorizava justamente essas "felicidades gratuitas" - como disse o seu prefaciador Ladislau Dowbord - felicidades oferecidas pela natureza, contra as "felicidades vendidas e compradas", como a infinidade de brinquedos eletrônicos, oferecidas pelo capitalismo neoliberal. Uma pedagogia libertadora precisa criar novas vivências, vivências solidárias, precisa criar novas relações sociais e humanas e não só transmitir conteúdos....

Paulo Freire foi um ser humano completo. Doce guerreiro das palavras, visionário, acreditava na importância da escola, do saber, da palavra, da cultura, do educador. Confessou certa vez que "não tinha vergonha de ser professor". Como um plantador do futuro, ele sempre será lembrado porque nos deixou raízes, asas e sonhos como herança. Como criador de espíritos, a melhor maneira de homenageá-lo é reinventá-lo. Não copiá-lo.... Ele nos deixou teorias e exemplos que nos podem levar muito além de onde estamos hoje. Como disse um professor logo que ouviu falar de seu falecimento, "ele nos deixou mais pobres porque partiu, mas estamos mais ricos porque ele existiu".

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-5551997000100002&script=sci_arttext)

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