Nossas histórias, nossas raízes

Os grupos Guarani Nhandeva têm escutado e curtido muitas histórias da tradição oral da cultura brasileira. Já vivemos momentos divertidos e enriquecedores a partir das narrativas contadas ou lidas. Sabemos que elas fazem parte de nossas raízes e precisam circular para que se mantenham cada vez mais vivas. Por isso, elas estão sempre presentes no nosso cotidiano “alimentando” nossas crianças e preservando o patrimônio cultural.

Para viver todo percurso planejado, lemos alguns contos do livro “Contos de bichos do mato”, de Ricardo Azevedo, mas não só. Tínhamos como objetivos ampliar o repertório de leitura da meninada e “passear” pelas diferentes versões de um mesmo conto a fim de trazer a reflexão que uma única história pode apresentar elementos ou personagens diferentes, dependendo do contexto. Além disso, ela pode ser recontada de variadas formas: lendo, de boca, teatro de fantoche, de sombra, tapetes ou caixas de histórias.

Nesse caminho, iniciamos com “O Rabo do Zé Macaco”, por Ricardo Azevedo, depois vieram outras, “Que eu vou pra Angola”, recontado por Ruth Rocha, “A casa do macaco e da onça”, do livro “Contos de bichos do mato”, “A casa do bode e da onça”, recontado por Angela Lago, “O jabuti e a fruta”, por Ana Maria Machado entre outras. De todas as narrativas conhecidas, “O rabo do Zé macaco” foi a que mais agradou à garotada. E, para que ela pudesse ser passada de geração em geração, nossos/as leitores/as do grupo da manhã foram convidados/as a fazer um teatro de fantoche para recontar a história. Cada um/a escolheu seu personagem, fez a ilustração dele e, juntos, reescrevemos o texto. Ficou uma belezura!

As crianças do grupo da tarde, brotadas de histórias e com muitas ideias na cabeça, criaram suas narrativas a partir da estrutura do texto do “Rabo do Zé macaco”. Foi tanta empolgação e envolvimento que o resultado foi um belo trabalho! Confira.

Ana Carolina e Ana Riberio (Dinamizadoras da biblioteca Quincas – BB)


Raposa

A pequena raposa foi caçar, aí ela encontrou uma vaca. Na fazenda, então, ela pegou a vaca e deu a vaca ao açougueiro.

Aí depois de um tempo, foi pegar a vaca de volta, já tinha matado. Ele pegou uma carne, e viu uma moça pobre com dois filhos, a raposa deu a carne à moça.

Assim foi embora… Depois de um tempo, ela voltou querendo a carne de volta, aí ela disse: já comemos. Ela então pegou um caderno. A raposa foi embora e viu uma escola, viu um menino que estava precisando de um caderno. Ela deu o caderno ao menino.

Depois de um tempo, a raposa foi pegar o caderno de volta e o menino respondeu que já acabou as páginas. Então, ela pegou uma mochila e saiu.

Ela viu um menino que ia pra uma excursão e ele estava sem mochila, então ela deu a ele a mochila. O menino agradecido deu um saquinho de oreo e a raposa foi feliz.

(Texto e Ilustração: Vicente, Elis e Moisés)


Uma vez, um peixe que se chamava Peixoto queria comer um atum, então ele foi na feira. Assim a moça falou:

– Mas Peixoto, atum é um peixe. E Peixoto não acreditou, não ligou e comeu. A família do Peixoto ficou brava e assustada, e mandou ele morar em outro lugar.

Peixoto ficou bravo e foi na feira de novo. E falou assim pra moça:

– Eu quero porque quero meu dinheiro de volta.

E a moça não devolveu. Então ele quebrou a barraca inteira da moça.

Depois, Baiacura, sua amiga, falou para ele repensar sobre o que houve. E Peixoto descobriu que era toda culpa dele.

Peixoto pediu desculpa para a moça. Ele foi à casa do seu pai e da sua mãe, pediu desculpa e conversaram. Peixoto voltou a morar no castelo.

(Texto e ilustração: Théo, Antônio e Felipe)


A macaca

Era uma vez uma macaca chamada Nar. Um dia ela foi sequestrada por um homem que se chamava Mosar e que morava no Brasil. Ele também sequestrou o irmão de Nar e foram para o Brasil com Mosar.
Quando eles chegaram lá o Mosar soltou a Nar e o irmão numa gaiola separada e a Nar falou com o Mosar bem brava:
– Eu quero porque quero o meu irmão de volta!
O Mosar ficou irritado e falou:
– Se você continuar assim, vou tomar minhas próprias decisões.
O Mosar falou:
– Você não sabe, né?
Nar respondeu:
– Não sei o quê?
Disse Mosar:
– Você não sabe o que falar.
Nar falou:
– Talvez!
Mosar falou:
– Então vai pensando rápido antes que eu pense algo mais rápido do que você!
– O quê? Nessa mente só cabe porcaria, não tem ideia boa, disse Mosar.
– Calma, parem de brigar, parecem duas crianças, falou o irmão.
– Não se intrometa, macaco inútil!!! disse o Mosar.
– Olha como você fala com o meu irmão! Falou Nar.
– Deixa ele gritar, vai sentir o gosto da vingança! – falou o irmão.
Mosar saiu e os irmãos falaram: vamos pensar em algo logo, depressa.


(Texto e Ilustração: Olívia Trotte e Luíza)


Mico-leão-dourado à procura de um amigo

     Em um dia de sol, o mico-leão-dourado saiu de sua floresta se sentindo solitário, querendo um amigo para passar o tempo.

       Quando chegou na cidade do Rio de Janeiro, foi diretamente procurar um amigo no bairro da Tijuca. Então ele encontrou um homem vendendo peixe para comer. Então ele foi comprar, e ele achou uma gatinha abandonada, com fome e solitária, então ele deu o peixe para ela.

       E eles viraram amigos, um dia depois… Eles ficaram com fome e o mico-leão-dourado quis o peixe de volta, mas ela já tinha comido. Ele surtou! E a gatinha deu um osso que ela tinha roubado do cachorro da vizinha e ele disse:

       – Você está ficando maluca! Vamos devolver agora, sua louca! E ele devolveu.

       Depois disso eles ficaram amigos. Com fome, eles queriam o osso de volta, mas o cachorro já tinha comido e o mico surtou! O cachorro deu uma banana para o mico, um peixe para a gatinha e para ele ficou o osso.

       E eles viraram amigos para sempre! Mas eles precisavam de um lar, pois era muito frio na rua. Então, eles encontraram um espaço vazio para morar. E cada um construiu uma parte da casa,.

Um tempo depois… ficaram com fome, então saíram de seu lar para procurar alimentos. Foram primeiro para a peixaria comprar peixe para a gatinha. E voltaram para a casa e viveram felizes até o fim de sua vida animalesca.

(Texto: Malu e Bel) (Ilustração: Malu, Bel e Alice)


O Zé Macaco e as queimadas

       O Zé Macaco estava andando na floresta e viu um balão e tinha um pouquinho de fogo. Ele tentou apagar, mas aumentou, começou a crescer e foi para a floresta. Os animais começaram a gritar: AAAAAAHHHH!

       Vamos, animais, sair daqui, está pegando fogo! E o salvador que era o leão levou todos para dar o fora da floresta. Eles esperaram apagar o fogo e voltaram. Começaram a reconstruir tudo e viveram felizes sem fogo! EEEEEEEEE

(Texto: Olivia Paraízo e Anna Beatriz)

(Ilustração: Olívia Paraízo, Anna Beatriz, Joaquim e Danilo)


O rabo do Zé Macaco

O macaco foi ao barbeiro. Em uma versão da história, ele pede pro barbeiro cortar o rabo. Na outra versão, o barbeiro fala que ele ficaria bonito sem o rabo e o macaco aceita.

Depois ele sai feliz da vida pra rua e todo mundo fica falando “Oh, coitado do macaco, foi brigar com a macaca e foi perder o rabo”.

O macaco voltou no barbeiro e ele pediu o rabo de volta. O barbeiro disse que não dava mais, porque tinha jogado o rabo fora. Então ele pegou uma navalha do barbeiro e foi-se embora.

Aí ele foi encontrar um marinheiro que cortava uma corda com os dentes e deu a navalha para ele e foi-se embora. O macaco voltou e perguntou “Cadê minha navalha?”.

Em uma versão, o marinheiro deixou a navalha cair no mar sem querer. Na outra versão, a navalha estava estragada e ele jogou fora. Aí o macaco pegou a botina do marinheiro.

Na outra versão, o macaco encontra um moço fazendo cestos e cortando com os dentes a palha. Então empresta a navalha para ele e leva um cesto.

Em uma versão, o macaco encontra um feirante e dá a botina para ele. Na outra versão, depois o macaco encontrou uma padeira fazendo pão e deu o cesto para ela.

Depois, ele encontra várias pessoas na escola, que não tinham o que comer e deu um pão para eles guardarem. Aí ele voltou e falou que queria o pão e eles tinham comido tudo.

Aí ele pegou uma menina (na outra versão era uma moça). Aí a moça namora com um cara que tinha uma viola. O macaco fica com a viola e canta: tralalálálá que eu vou pra Angola.

Opinião das crianças sobre a história:

A gente gostou das histórias. Gostamos mais da segunda versão. A gente fez a nossa história com as duas versões juntas. E se você gosta de uma história com um tema de macaco, essa é pra você!


BIBLIOTECA QUINCAS – BB

O rabo do Zé macaco

Narradora Laura: Certo dia, o Zé macaco foi ao barbeiro.

Dante: Bom dia, seu barbeiro, corta meu topete?

Luna: Bom dia, Zé macaco! Ah, ficaria muito melhor se você cortasse a ponta do seu rabo. 

Narradora Laura: Aí, o barbeiro cortou o rabo do Zé macaco demais e o macaco foi embora, feliz da vida.

Narradora Laura: No caminho, ele encontrou o povo falando:

Chloé: 

Coitado do Zé macaco

que desgraça, que diabo

foi brigar com a macaca 

perdeu a ponta do rabo

Narradora Laura: Quando ele ouviu o povo falando, ele ficou furioso e voltou ao barbeiro para pegar o rabo de volta. 

Benjamin: O seu barbeiro quero meu rabo de volta.

Luna:  Mas eu joguei o seu rabo fora. 

Benjamin: Então vou pegar sua navalha. 

Narradora Rafaela: E o macaco foi embora feliz da vida e encontrou um pescador que estava sem a faca de cortar o peixe.

Benjamin: Oi, pescador! Eu tenho uma navalha e vou dar para você. 

Guilherme: Obrigado, vai me ajudar muito.

Narradora Rafaela: O macaco foi embora e ouviu o povo falando de novo: 

Chloé:

Coitado do Zé macaco

que desgraça, que diabo

foi brigar com a macaca 

perdeu a ponta do rabo

Narradora Rafaela: Ele ouviu uma, ouviu duas e na terceira ele foi buscar a navalha. 

Benjamin: Quero minha navalha de volta.

Guilherme: Mas seu macaco, sem querer eu deixei  a navalha cair no mar. 

Benjamin: Então eu vou pegar sua botina.

Narradora Rafaela: No caminho ele encontrou com um feirante descalço e deu a ele a botina. 

Quando foi embora, ouviu o povo falando:

Clhoé:Coitado do Zé macaco

que desgraça, que diabo

foi brigar com a macaca 

perdeu a ponta do rabo

Narradora Luna: O macaco não gostou. Ouviu uma, ouviu duas e na terceira foi procurar o feirante. 

Benjamin: Quero a botina de volta

José: Agora é tarde! Eu vendi.

Benjamin: Então vou levar cinco doces.

Narradora Luna: No caminho encontrou uma mãe com suas quatro filhas.

O macaco deu os doces para elas e foi embora. 

No caminho ouviu o povo falando:

Chloé: Coitado do Zé macaco

que desgraça, que diabo

foi brigar com a macaca 

perdeu a ponta do rabo

Narradora Luna: O macaco não gostou. Ouviu uma, ouviu duas e na terceira voltou para procurar a mãe. 

Benjamin: Quero meus doces de volta!

Catarina: Agora é tarde! A gente comeu.

Benjamin: Então vou pegar uma menina

Narradora Luna: No caminho encontrou uma lavadeira lavando roupa sozinha e deu a ela uma menina. 

 Quando ele foi embora ouviu o povo falando:

Chloé: Coitado do Zé macaco

que desgraça, que diabo

foi brigar com a macaca 

perdeu a ponta do rabo

Narrador José: O macaco não gostou. Ouviu uma, ouviu duas e na terceira voltou para pegar a menina de volta.

Vitória: Agora é tarde! Não dou a menina não.

Benjamin: Então vou levar o paletó e a viola.

Narrador José: Dessa vez o povo não falou nada, porque o paletó cobria o rabo do macaco.

Guilherme e Dante cantam:  

Do meu rabo fiz navalha

da navalha uma botina

da botina cinco doces

dos doces uma menina

Com a menina fiz negócio

Arranjei um paletó

Como é de pano comprido

Deu pra esconder o cotó!

Comentários dos/das nossos/as leitores/as:

Nós, do Guarani – Nhandeva, achamos que não foi legal pegar de volta aquilo que o Zé macaco dava e que no começo ele pegou a navalha do barbeiro e não deu nada em troca para ele. Também não achamos legal o povo falando o que não tinha prova.

Achamos bem legal o “mamaco”, como diz o Benjamim, que dava coisas que as pessoas precisavam. Ele ajudava as pessoas.

Nós amamos essa história!  Esperamos que também tenham gostado. Tchau do Nhandeva Manhã.

Texto coletivo: Guarani Nhandeva, manhã, 3º ano