Por mais vida na escola

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Pensando na escola, de uma forma geral, à medida que as crianças vão crescendo, a matriz curricular se amplia e se complexifica e a tendência, se não estivermos atentos, é entrarmos num ritmo que não faz muito sentido quando pensamos em aprendizagem, construção, processo.

Aqui na Oga Mitá não é diferente! A demanda dos conteúdos existe e exige de nós todos um olhar crítico, criativo e cuidadoso diante do que estamos fazendo com o tempo de nossas meninas e meninos na escola.

Refletindo muito sobre essa questão, buscamos situações em que a vida real seja o ponto de partida de nossas vivências, fazendo sentido para as aprendizagens que vão, pouco a pouco, se construindo nas mais variadas áreas.

Falar é fácil, mas o que nós temos feito efetivamente? Então vou te contar.

Em uma mesma semana, vivemos duas situações que ilustram um pouco do que estou querendo dizer. Uma delas foi o nosso último lanche coletivo, um macarrão com camarão, compondo mais uma etapa dos nossos estudos sobre os seres invertebrados. Após muitas pesquisas, uma viagem com direito ao contato mais próximo com esses seres, leituras, buscas na internet, seminários trocando as descobertas feitas, entre outras experiências, resolvemos cozinhar juntos. Isso mesmo! Cada estudante do Uru-Eu-Wau-Wau trouxe para a escola um ingrediente, a professora foi à feira ainda pela manhã, e à tarde foram todos para a cozinha. Tem maneira mais gostosa de aprender e estar junto? Primeiro conversamos sobre as etapas que precisaríamos realizar para colocar nosso prato na mesa do jeito mais gostoso possível. Após a primeira organização, cada um ficou à vontade para dizer de que forma poderia contribuir, responsabilizando-se por cortar a cebola e o alho, preparar o molho de tomate caseiro, temperar o camarão, cozinhar o macarrão, colher os temperos da horta, lavá-los etc. Aos poucos, cada um, com suas mãos e com o seu coração, foi doando um pouquinho do seu tempo e dos seus conhecimentos e descobertas no preparo do nosso almoço. Passamos a tarde cozinhando, conversando, picando, colhendo e, finalmente, partilhando o alimento e o momento de celebrar uma produção coletiva tão gostosa, que, além de tudo, ainda dialogava com as nossas pesquisas. Ficou com água na boca? Então vejam as fotos!

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Nos dias que se seguiram ao lanche, conversando sobre a experiência que tivemos, as aprendizagens citadas pelo grupo passearam desde a relação entre a água e o cloro utilizados para a higienização dos temperos da horta até o macarrão que, quando gruda na parede, nos traz a informação que já está no ponto para ser retirado da água fervente. Isso tudo foi registrado em um texto coletivo produzido pela turma e, sem dúvida, somou ao projeto que estamos vivendo por aqui, enriquecendo de sentido as nossas aprendizagens.

Mais adiante, foi a vez de nos debruçarmos pelas medidas de comprimento. Tínhamos alguns tecidos muito bonitos, fita métrica, régua, agulha, linha e muita criatividade. O desafio lançado foi a produção de bolsas - pequenas e grandes -, que foram medidas em suas laterais e comprimentos, cortadas e costuradas pelas próprias crianças. O desafio foi aceito com muito envolvimento e dedicação por todos. Em  dois dias, produziram seus novos pertences e entraram em contato com o conteúdo matemático de forma criativa. Outro ponto importante dessa vivência foi a reflexão que fizemos sobre os processos de produção que envolvem muito dos produtos que consumimos por aí e sobre os quais, muitas vezes, não pensamos em como e por quem foram feitos. Esse foi apenas o início das nossas discussões...

Na verdade verdadeira, o que queremos não são corpos sentados, cadernos cheios de exercícios sistematizados e mecanizados, silêncio e bons resultados. Queremos textos enriquecidos por experiências, a partilha das aprendizagens com sorriso no rosto, meninos e meninas descalços pelo corredor e as melhores memórias dos tempos da escola. Então, vamos seguindo e aprendendo muito, todo dia, com o outro e com a vida!

Raphaela Bomtempo
Professora da Uru-Eu-Wau-Wau – 4º ano do Ensino Fundamental I

 

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