Livros, Histórias e Afetos

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O texto abaixo foi um presente que recebemos da Dayhane, mãe da Sofia do Ashaninka tarde, recém-chegada à nossa escola. Ele foi enviado, via ClassApp, aplicativo da escola, a partir de uma provocação feita pelas dinamizadoras da biblioteca, Ana Ribeiro e Valéria, que desejavam saber sobre as experiências leitoras que as crianças têm vivido na quarentena.
A resposta de Dayhane reafirma nossa concepção de leitura e a importância do convívio com os livros, as narrativas e os/as narradores/as diariamente. Entendemos esse triangulo amoroso, como diz Yolanda Reys, como gesto de afeto, afago e descobertas. Segue o texto e boa leitura!

Para falar sobre a importância da leitura, atento-me ao que diz Daniel Pennac em seu livro Como um romance, "O verbo ler não suporta o imperativo (...) Ler é um ato subversivo (...) Ler é ter confiança nos olhos que se abrem, nas cabeças que se divertem, na pergunta que vai nascer e que vai puxar uma outra pergunta". Sob este prisma da leitura como um dos pilares da evolução humana, reconheço-me como instrumento necessário para aproximar a minha filha desse prazer de ler. Afinal, como já dizia Paulo Freire, "a leitura do mundo precede a leitura da palavra", por isso como mãe, professora de Literatura e ávida leitora, sinto-me responsável por dar o exemplo para Sofia em relação ao ato de ler. Nossa família gosta muito de livros, meu marido é historiador, pesquisador e escritor. De fato, temos muitos livros em casa e Sofia (4 anos) já tem sua minibiblioteca. Leio para Sofia desde o ventre e, ainda recém-nascida, ela já me ouvia ler e contar histórias. Os livros nos ajudaram muito na rotina da primeira infância da Sofia: o livro do banho, o livro sobre desfralde, o livro sobre frutas, o livro de pano, o livro com páginas grossas, páginas de plástico, páginas que não molhavam nem amassavam por mais que ela as babasse. Sofia cresceu rodeada de livros, ela adora ganhar livros. Ler é uma das suas brincadeiras preferidas, sempre escolhe um livrinho e nos pede para ler. Aliás, ler nos aproxima, nos faz dar uma pausa no trabalho para ficarmos juntinhas, nos coloca em sintonia. A leitura em nossa casa vai além do fato de contar uma história, não é uma atitude meramente pedagógica para aquisição de vocabulário e de estruturas sintáticas, a leitura também não é um hábito como escovar dentes, a leitura é um laço de amor, uma trégua ao combate entre os homens... um momento de partilha, de afeto, de atenção e de carinho. Ler para uma criança é dar a ela o direito de se deitar ou de caminhar enquanto ouve a leitura, ela também pode interromper para comentar, perguntar sobre o que foi lido, mostrar as figuras, voltar uma página ou pular duas ou três... é dar a ela a intimidade com o livro e despertar na criança o apetite de leitor, o formidável desejo por aprender a ler. Nessa fruição da leitura, o silêncio ou o sorriso dela nos revela o segredo da sua experiência leitora que se ilumina pelo brilho ofuscante de nossa intimidade com o texto. É como disse Daniel Pennac: " Ler é oferecer tesouros, desembrulhá-los na praia ignorante". E, dessa forma, eu, Marcelo e Sofia vamos 'navegando por mares nunca antes navegados' e desvendando os enigmas escondidos nas florestas encantadas das leituras. Assim, como especialista em Contos dos Irmãos Grimm, sempre ofereci à Sofia a leitura dos clássicos tanto da Literatura Universal quanto da Literatura Brasileira, despertando na sua imaginação o interesse por seres maravilhosos, como fadas, unicórnios, duendes, bruxas e princesas, por seres do nosso folclore, como mitos e lendas, e por seres medievais, como guerreiros e guerreiras. Além disso, há as escolhas literárias da própria Sofia por temáticas acerca dos fenômenos da natureza, vidas em outros planetas, estrelas, cometas e dinossauros. Dessa forma, as vozes dos narradores se misturam às nossas e não nos cansamos de ler e reler as mesmas histórias como representação do nosso próprio prazer de ler, que se repete diariamente em um ciclo caloroso de afeto e de cumplicidade. Principalmente, antes de dormir, quando ela nos chama em seu quarto para fazermos uma leitura antes dela adormecer. Voluntariamente, eu ou o papai fazemos a leitura do livro que ela escolheu. Ultimamente, as narrativas que têm sido parte do dia a dia da Sofia são sobre histórias de animais, em geral. Nós temos disponibilizado um momento para ler histórias na hora de dormir, mas durante o dia ela sempre nos pede para ler alguma história também. Sofia tem demonstrado muito interesse para viver esse momento de leitura com a gente. E, por tudo isso, contamos muito com o apoio de vocês para ampliarmos a robustez desse vínculo afetivo construído nesse momento de leitura.
Um forte abraço a todos e a todas.
Carinhosamente, Dayhane Paes.

Biblioteca Quincas – MX

Para falar mais sobre livros, histórias e afetos e matar um pouco da saudade que sentimos dos momentos literários, seguem algumas imagens da nossa biblioteca Quincas da Maxwell. Esperamos que goste!


Beijos,
Ana Ribeiro e Valéria Barros

 

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