Gente, um prédio caiu!

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Na rotina da Educação Infantil, o uso da roda como um dos espaços de conversa, partilha entre crianças e adultos, acolhimento, segurança e afeto faz parte do cotidiano vivo da nossa escola. É um lugar que é alimentado por tudo o que acontece diariamente. No coletivo, planejamos, decidimos, socializamos descobertas, estabelecemos combinados, entre outras possibilidades. E nesse contexto, a criança percebe a importância da sua fala e compreende que tem espaço garantido para compartilhar seus sentimentos, ideias, sugestões e, inclusive, sua indignação.
Foi assim que aconteceu na manhã do dia 05/05/18, quando uma criança do grupo me procurou para falar algo que lhe angustiava e solicitou que fizéssemos uma roda:

- Carol, a gente pode fazer uma roda?

- Sim. Podemos! Você quer falar com os colegas?

- É que eu preciso falar uma coisa muito importante. É que um prédio caiu. Tem gente que morreu e um monte de gente ficou sem casa. Você ficou sabendo?

- Sim. Fiquei sabendo. É uma tristeza tudo isso!

- É! Muito horrível!

- Você ainda quer a roda? Quer falar com seus colegas sobre o assunto?

A confirmação vem com o movimento da cabeça, acompanhado de lágrimas nos olhos. Nessa hora, eu já não estava me contendo e também deixei a lágrima rolar.

Demos início à conversa:

- Gente, um prédio caiu! – disse a criança, dando continuidade ao assunto.

As outras crianças do grupo também sabiam do ocorrido, algumas pelo rádio, enquanto estavam no Uber, outras através da família, pelo noticiário. Alguns contaram outras partes do fato em questão, mas também surgiram algumas falas que revelaram a implicação das crianças com essa situação:

"Eu queria fazer um bolo e levar para as pessoas."
"A gente podia dar um cobertor para eles."
"Eu queria fazer uma comida para eles."
"A gente podia brincar com as crianças que ficaram sem casa."
"A gente podia construir casas para essas pessoas."

Esse momento vivido com a turma Arara M nos remete às dimensões éticas e políticas que embasam a Educação Infantil. Serem ouvidas e terem sua participação garantida, ao seu modo, em qualquer questão, são direitos das crianças. É dever do professor atendê-los.
Quando acompanhamos e orientamos essas ações, pautando-nos no princípio do respeito e da solidariedade, as crianças se percebem cada vez mais potentes diante da oportunidade de construir/pensar o bem coletivo.

Saber que elas se importam com os outros, nessa idade (4 e 5 anos), me enche de alegria e ânimo! Inspirada pelas crianças e pelo mestre Paulo Freire, sinto ainda mais vontade de ESPERANÇAR, COM eles(as), POR eles(as), POR nós!

Mestre e educador Paulo Freire:
"É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar;
porque tem gente que tem esperança do verbo esperar.
E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera.
Esperançar é se levantar,
esperançar é ir atrás,
esperançar é construir,
esperançar é não desistir!
Esperançar é levar adiante,
esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”

Vamos em frente! Vamos esperançar juntos!

Professora: Carol Oliveira
Grupo Arara Manhã