Acolhimento

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Segundo o dicionário Aurélio, acolhimento significa “refúgio, abrigo, agasalho”.

Refletindo sobre o tempo de chegada da criança e de sua família no contexto escolar, momento precioso de contato com os pequenos e adultos que os acompanham, penso no sentido dessas palavras e das nossas ações durante esse período. De imediato vem a imagem do abraço e de tudo que ele pode representar. Ter a disponibilidade de receber cada menino e cada menina com o desejo de que sintam-se seguros na escola, nos leva a planejar diferentes formas de abraços.

Para algumas crianças, o abraço é literal e o nosso colo representa território seguro e ponte para o novo que se descortina. Para outras, o abraço é com o olhar. Não temos a permissão delas de chegar mais perto e precisamos respeitar esse limite. Nesses casos, a ponte acontece nos olhares que pouco a pouco deixam de ser ameaçadores e passam a ser canal de comunicação e cumplicidade entre adulto e criança.

E nessa trajetória, além da atenção aos pequenos que chegam, também olhamos para mães, pais, avós e qualquer outro adulto de referência que os acompanha na sua chegada à escola. Muitos adultos precisam mais do colo e do abraço do que as próprias crianças e precisamos garantir esse tempo de atenção. Assim, o processo de acolhimento acontece concomitante: filhos e pais.

Para muitas crianças que recebemos a Oga Mitá é a primeira escola delas. Sair de um contexto familiar onde, na maioria das vezes, elas têm toda a atenção e disponibilidade exclusiva dos adultos que as cercam e entrar em um espaço que vai separá-la dessa situação tão confortável representa um desafio! Reagem das formas mais variadas. O choro geralmente é a forma de protesto mais contundente. Algumas preferem se refugiar no colo do adulto ignorando a chegada da professora.  Outras se disponibilizam de imediato e seguram a mão da professora para acompanhá-la. Pouco tempo depois percebem a distância que se estabeleceu do adulto que estava em sua companhia e reclamam sua presença. Buscamos diferentes estratégias, de acordo com o que vamos observando de cada criança, para estreitar laços afetivos e estabelecer vínculos. Queremos que esse tempo seja vivido com tranquilidade, por isso não há receita.

Quando explicamos aos pais que visitam a escola como procedemos no período de acolhimento, muitos costumam perguntar quanto tempo esse processo dura. Explicamos para eles que quem vai dizer isso será a própria criança. Essa forma de planejar o acolhimento revela também a concepção que temos de criança. Ela é um sujeito ativo, com ritmos e percepções distintas. Precisamos “escutar” o que ela diz, confiar nela e respeitá-la.

Quando chegam, o principal objetivo é ajudá-las a se sentirem à vontade e a construir com o adulto de referência da escola uma relação de segurança para que este adulto seja ponte entre ela e todos os inéditos que terá pela frente: o grupo de crianças, o espaço físico, a rotina, os outros adultos que também farão parte da sua história, entre outros.

Pouco a pouco meninos e meninas vão ampliando o olhar e descobrindo o prazer de encontrar o outro e de tê-lo como parceiro para seus jogos e suas brincadeiras. A movimentação na sala e nas áreas externas, espaços que também têm o seu tempo de exploração e de apropriação, vai se tornando mais organizada. E dia a dia as crianças vão se revelando, sentindo-se acolhidas. Sabem que confiamos nelas e que têm espaços de autoria na construção da sua história.

O desafio é fazer com que nossos pequenos tenham desejo e prazer de estarem conosco na escola. Queremos construir com elas um cotidiano cheio de significado.

Depois de um tempo, quando observarmos a chegada do grupo e relembrarmos o processo de cada uma, seremos tomados pelo prazer da conquista. Mas, mesmo sabendo que esse tempo passará, é importante que saibam que o abraço e o colo continuarão garantidos para os momentos delicados e difíceis na vida de todos nós – adultos e crianças. Contem conosco!,

Célia Regina Machado Fonseca

 

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