Educação Infantil: que tempo é esse?

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Educar é impregnar de sentido o
que fazemos a cada instante.
(Paulo Freire)

Como impregnar de sentido e significado o cotidiano da criança pequena no espaço escolar? Acreditamos que é preciso, antes de tudo, vê-la como sujeito potente e garantir seu lugar de protagonismo na construção da sua história na Educação Infantil.

A escola promove o encontro entre as crianças, e sua prática pedagógica deve se sustentar nas relações e nas interações entre a garotada. Nessa fase de desenvolvimento, elas estão se constituindo enquanto sujeitos, e a referência do outro na descoberta de si é imprescindível, porque o outro também nos constitui.

Entendemos que a Educação Infantil não é um tempo preparatório, nem para a vida nem para os segmentos seguintes. Preparar para significa desprezar o aqui e agora. A criança não é alguém que virá a ser. Ela é. O respeito ao tempo da infância e à singularidade de cada indivíduo deve ser o alicerce de todas as possibilidades de narrativas que podemos escrever com essas meninas e esses meninos. Importa para nós perceber o brilho no olhar dessa garotada. Se o olhar brilha, é porque tem encanto, desejo e sentido.

Paulo Fochi, um estudioso da infância, diz que as crianças carregam consigo a novidade. São portadoras de inéditos, e para ouvi-las precisamos nos desprender de padrões preestabelecidos e ter um olhar reparador para ver e ouvir o não dito. Essa postura nos exige disponibilidade e inteireza.

Tem sido encantador retomar a rotina escolar e receber as crianças e suas famílias. A alegria, o burburinho e até mesmo o choro nos corredores, nas salas e no quintal revelam a vida que pulsa. E para tecer com significado o nosso cotidiano com elas, exercitamos o olhar reparador para perceber seus desejos, seus sentimentos e emoções. À medida que se observa o movimento da garotada e o que ele traduz, cada turma vai tecendo o seu caminho, a sua história. Isso é construir significado.

Há nesse tempo da infância algo que é primordial, independente da idade: o tempo potente de brincar. Brincar não é perder tempo. É ganhar. É investimento. Segundo Silvana Augusto (2019), no texto “O que as crianças precisam aprender na Educação Infantil”:

A brincadeira permite à criança projetar-se para além de sua própria identidade, externalizar ideias, pensamentos, palavras que representam os objetos ausentes, as coisas, as pessoas e os sentimentos. Assim como a brincadeira, também o desenho e, por fim, a escrita são linguagens que representam o mundo. Brincar, desenhar e escrever não são atividades conflitantes, mas sim complementares do processo de desenvolvimento da criança. A criança que aprende a escrever é a mesma que produz enredos nas brincadeiras de papéis, que inventa personagens e cenários nos desenhos, quer dizer, que cria e projeta ideias. (https://www.unoeducacao.com › 2019/02/28)

 

Quando não compactuamos com a ideia de a Educação Infantil ser um espaço preparatório, isso não significa que não tenhamos compromisso com a aprendizagem das crianças. Muito pelo contrário. Acreditamos na sua competência e garantimos seu espaço de protagonismo para que ela se perceba sujeito efetivo na construção do seu conhecimento. Nesse percurso, a criança investiga e faz suas descobertas. Um adulto de referência está sempre por perto dando suporte ou fazendo mediações sempre que é solicitado. Investir na autonomia da criança, na sua atuação, não significa abandoná-la. Para isso, investimos na construção do vínculo entre ela e o adulto, porque nos interessa cuidar do modo como chegamos no outro. Fazemos do afeto um dos eixos do nosso trabalho.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe seis direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Eles requerem a ação, a mobilização da criança com toda sua inteireza, porque a construção de sua aprendizagem é experimentada de corpo inteiro. Assim, damos margem para que ela construa sentido nesse processo. Para tanto, as/os educadoras/es precisam ter clareza dos objetivos que querem alcançar e, com intencionalidade, planejar a organização de espaços e materiais provocadores que favoreçam o movimento de busca da criança.

Nosso objetivo com as crianças é provocar nelas o desejo de explicar o mundo. Ou seja, compartilhar suas percepções, impressões e hipóteses. E se têm ao seu lado adultos que confiam nelas, que acreditam na sua capacidade e que garantam seu espaço de atuação, irão se sentir seguras para se arriscar e seguir sua trajetória com encanto e prazer. Isso porque é preciso inquietar o coração para gerar movimento. As respostas não estão prontas. Esse é o cenário que nos propomos concretizar no cotidiano da Educação Infantil da Oga Mitá com cada criança, cada turma. Seguimos na certeza de que temos sempre muito a aprender com as crianças. Por isso, fazemos diariamente o exercício de deixar nossos olhos, ouvidos e coração bem abertos e disponíveis para escutar o que elas nos têm a ensinar.

Célia Regina Machado Fonseca